Pensando sobre as virtudes e os defeitos deste mundo, alguns monoteístas moralistas concluíram que esse mundo material não é um lugar de prazeres imaculados. Em verdade, os sofrimentos superam os prazeres. Eles decidiram que o mundo material é uma prisão para punir as entidades vivas. Se há uma punição, então deve haver um crime. Se não há crime, então por que haveria punição? Qual crime as entidades vivas cometeram? Incapazes de responder a essa pergunta de modo apropriado, alguns homens de pouca inteligência conceberam uma ideia muito extravagante. Deus criou o primeiro homem e o colocou em um prazeroso jardim com sua esposa. Então Deus proibiu ao homem provar do fruto da árvore do conhecimento. Seguindo o conselho malévolo de um ser perverso, o primeiro homem e mulher provaram do fruto da árvore do conhecimento, assim desobedecendo o mandamento de Deus. Dessa maneira eles caíram daquele jardim para o mundo material repleto de sofrimentos. E por causa dessa ofensa, todas as outras entidades vivas são ofensores a partir do momento de seu nascimento. Não enxergando outra maneira de remover essa ofensa, O próprio Deus nasceu sob a forma humana, assumiu sob Seus próprios ombros os pecados de Seus seguidores, e então morreu. Todos que O seguirem facilmente atingem a liberação, e todos que não Lhe seguem caem no inferno eterno. Dessa maneira, Deus assume uma forma humana, pune a Si mesmo, e assim libera às entidades vivas. Uma pessoa inteligente não será capaz de enxergar qualquer sentido nisso.

Para aceitar essa religião confusa, deve-se primeiro acreditar nessas coisas um tanto quanto implausíveis: “A vida da entidade viva começa no nascimento e termina com a morte. Antes do nascimento a entidade viva não existia, e depois da morte a entidade viva não mais permanecerá no mundo das atividades materiais. Só seres humanos possuem almas. Outras criaturas não possuem almas.” Só pessoas extremamente desinteligentes acreditam nessa religião. Nessa religião, a entidade viva não é espiritual por natureza. Por Sua própria vontade, Deus criou as entidades vivas da matéria. Por que há entidades vivas nascidas em situações tão distintas? Isso os seguidores dessa religião não podem dizer. Por que uma entidade viva nasce em uma casa repleta de sofrimentos, e outra entidade viva nasce em uma casa repleta de prazeres, outra entidade viva nasce na casa de uma pessoa devotada a Deus, e outra pessoa nasce na casa de um ateísta doentio? Por que uma pessoa nasce em uma situação onde ele é encorajado a desempenhar atividades piedosas, e ele realiza atividades piedosas e se torna bom? E por que outra pessoa nasce em uma situação onde ele é encorajado a pecar, e então ele peca e se torna mau? Os seguidores dessa religião não são capazes de responder a todas estas perguntas. A sua religião aparenta dizer que Deus é injusto e irracional.

Por que eles dizem que animais não tem almas? Por que pássaros e feras não possuem almas tal como os seres humanos? Por que os seres humanos têm uma única vida, e, por causa de seus atos nessa única vida, são recompensados com o céu eterno ou punidos no inferno eterno? Qualquer pessoa que acredita em um Deus verdadeiramente misericordioso e bondoso irá perceber essa religião como sendo completamente inaceitável.

Os seguidores dessa religião não tem poder para adorar a Deus sem egoísmo. Em geral, a sua ideia é que, através do cultivo de atividades fruitivas e filosofias especulativas, deve-se trabalhar para realizar melhorias no mundo material, e deste modo agradar a Deus. Por construir hospitais e escolas, e por fazer várias atividades filantrópicas, eles tentam fazer o bem ao mundo, e assim agradar a Deus. Adorar a Deus através de realizar atividades fruitivas (karma) e de se ocupar em especulação filosófica (jnana) é muito importante para eles. Eles não tem poder para compreender o serviço devocional puro (suddha-bhakti), que é livre do trabalho fruitivo e da especulação filosófica. Adoração a Deus feita por um senso de dever nunca é natural ou desprovida de egoísmo. “Deus têm sido bom conosco, e portanto, nós devemos adorá-Lo”. Esses são os pensamentos de mentes pequenas. Por que isso não é uma boa maneira de se adorar a Deus? Porque assim podemos pensar, “Se Deus não for bom comigo, então eu não irei adorá-Lo”. E dessa maneira, adquire-se o mal desejo egoísta de receber a bondade de Deus no futuro. Se alguém deseja que Deus tenha a bondade de permitir que Ele seja servido por esse alguém, então não há nada de errado com esse desejo. Mas essa religião que estamos discutindo não enxerga isso dessa forma. Essa religião enxerga a bondade de Deus em termos de como podemos desfrutar de uma vida feliz nesse mundo material.


Srila Bhaktivinoda Thakura

(Tattva-viveka 1.25)

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